No próximo dia 10 acontece a premiação mais importante do cinema, a edição 92 do Oscar. Entre nomes conhecidos e consagrados do cinema americano, como Quentin Tarantino, Sam Mendes e Martin Scorsese, temos a surpreendente presença do diretor sul-coreano Bong Joon-ho com Parasita. A produção foi indicada a 6 estatuetas, incluindo melhor filme, diretor, roteiro original e edição.
Mesmo que não leve nenhum prêmio para casa, o filme já está consagrado pelo público e pela crítica. É apenas o décimo primeiro de língua estrangeira indicado na categoria geral de melhor filme. Arrecadou mais de 110 milhões de dólares em bilheteria no mundo todo. Arrebatou diversas das principais premiações nos festivais europeus, como a Palma de Ouro em Cannes, numa decisão unânime do júri presidido pelo diretor e produtor Alejandro González Iñarritu.
Uma história que diverte e faz pensar
O mais incrível sobre Parasita é que o filme foi muito bem sucedido não apenas nos aspectos financeiros e de repercussão midiática, mas principalmente nos âmbitos criativos e sociais.
O principal tema abordado pelo filme, a desigualdade, aparece com centralidade na trama, mas de uma forma completamente diferente do que estamos acostumados a presenciar nas salas de cinema. Sua maior genialidade é inserir a crítica social numa criativa mistura de comédia e suspense, que faz pensar ao mesmo tempo que envolve o espectador numa série de reviravoltas e narrativas conflitantes que despertam empatia, revolta, surpresa, agonia, diversão, entre outras.
Em nossos dias de polarização política, a ausência de mocinhos e bandidos do roteiro é uma enorme rajada de ar fresco. É verdadeiramente inspirador perceber que, através da criatividade, é possível abordar questões polêmicas sem soar piegas. O filme demonstra que, apesar das diferenças, acabamos todos convivendo juntos, cada um com uma história de pequenas alegrias e tristezas, vitórias e derrotas cotidianas.
A importância do storytelling para despertar empatia
Não importa sua posição política ou crença religiosa. Quaisquer que sejam os parâmetros que basearam a sua educação, as filosofias em que se apoia, os modelos de governo ou econômicos que têm preferência, enfim, seja quem você for, também será afetado pela questão da desigualdade. Nos últimos anos, a concentração de renda vem subindo de forma crescente não apenas no Brasil, mas no mundo todo. É um fato que vem apresentando consequências.
Como todo tema relevante, o assunto é repercutido em diversas obras de arte, incluindo o cinema. Com um roteiro singular, Parasita consegue quebrar o muro que tende a separar as pessoas nos mais diversos nichos sociais. Sua abordagem não é panfletária. Todos os protagonistas são mostrados de forma crua, humana, com qualidades e defeitos. Desta forma, é extremamente político, sem levantar bandeiras. Acaba deixando as conclusões para o expectador. E como consegue isso? Através de uma história bem desenvolvida.
Ao romper com estereótipos que nos separam, o filme consegue seu maior objetivo, que é se tornar universal. Uma inspiração para qualquer roteirista, escritor ou até para profissionais de comunicação, como a equipe da agência 904, que gerenciam marcas e elaboram conceitos e mensagens para seus clientes.
Uma boa ideia quebra barreiras
Nos Estados Unidos, o público médio de cinema geralmente não se interessa por filmes em língua estrangeira. Muitos afirmam que se trata de uma questão cultural, uma falta de interesse em estórias que se passam em um contexto diferente da realidade americana. Outros apontam para o fato que as distribuidoras concentram suas atenções em produções blockbuster, sobrando poucas salas de exibição para outros tipos de filmes.
Apesar disso, Parasita arrecadou quase 15 milhões de dólares de bilheteria no mercado americano. Caminha a passos largos para se tornar um dos 10 maiores sucessos de língua estrangeira no país. Uma prova que uma boa ideia pode mudar hábitos e chegar mais longe do que o imaginado.
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